domingo, 13 de março de 2011

A Origem do preconceito


Para entender o que é o racismo e o preconceito precisamos visitar as idéias que funcionam como piloto automático. Essas idéias, a partir das quais criamos o mundo que habitamos, são transmitidas pela família, pela religião, pela escola e por outras inserções culturais, transformando-se em verdades incontestáveis, mesmo que a experiência individual prove o contrário.

Saber identificar essa carga de ancoragem muito profunda, que alguns cientistas sociais chamam de "representações", já é um bom começo. As raízes do racismo têm, pelo menos, três origens inter-relacionadas: antropológica, histórica e religiosa, explica a professora Maria Lúcia Montes, da USP.
A humanidade é etnocêntrica, ou seja, cada grupo toma suas características culturais como certas e como medida para avaliar os demais. Há sempre dois processos complementares: o da identidade e o da alteridade. O outro (alter), o diferente é sempre visto com suspeita.

Por conta disso, a humanidade viveu a idéia - que ainda sobrevive em nós - de que os outros são bárbaros, ameaçadores e fascinantes ao mesmo tempo. Porém, o pré-conceito que permaneceu com mais força em nosso piloto automático vem do século 19, quando a ciência estabeleceu que os povos das Áfricas e das Américas, por exemplo, eram primitivos. E os primitivos teriam de evoluir até chegar a ser como os ocidentais civilizados.

É com esse ranço de uma ciência equivocada que ainda lidamos. Muitas impressões advindas de séculos anteriores ainda povoam nossas representações do mundo. Somado a essa imagem, há o fato histórico concreto de que, no Brasil, negro foi sinônimo de escravidão.
Associações perversas ainda encontram aporte em interpretações religiosas. Negros eram os mouros infiéis (muçulmanos), contra os quais lutaram os cruzados cristãos. Igualmente havia a imagem negativa dos "filhos de Cam" (ou Cã). Julgava-se que os africanos seriam descendentes de Cam, um dos três filhos de Noé. Cam seria maldito por ter visto seu pai nu, além de tomar como esposa uma descendente de Caim. Atualmente, as religiões neo-pentecostais atacam os cultos afro-brasileiros, recriando estigmas católicos como o diabo e o inferno.

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